Olha,
eu sei que o barco tá furado e sei que você também sabe, mas queria te
dizer pra não parar de remar, porque te ver remando me dá vontade de não
querer parar também.Tá me entendendo? Eu sei que sim. Eu entro nesse
barco, é só me pedir. Nem precisa de jeito certo, só dizer e eu vou. Faz
tempo que quero ingressar nessa viagem, mas pra isso preciso saber se
você vai também. Porque sozinha, não vou. Não tem como remar sozinha, eu
ficaria girando em torno de mim mesma. Mas olha, eu só entro nesse
barco se você prometer remar também! Eu abandono tudo, história,
passado, cicatrizes. Mudo o visual, deixo o cabelo crescer, começo a
comer direito, vou todo dia pra academia. Mas você tem que prometer que
vai remar também, com vontade! Eu começo a ler sobre política, futebol,
ficção científica. Aprendo a pescar, se precisar. Mas você tem que remar
também. Eu desisto fácil, você sabe. E talvez essa viagem não dure mais
do que alguns minutos, mas eu entro nesse barco, é só me pedir. Perco o
medo de dirigir só pra atravessar o mundo pra te ver todo dia. Mas você
tem que me prometer que vai remar junto comigo. Mesmo se esse barco
estiver furado eu vou, basta me pedir. Mas a gente tem que afundar junto
e descobrir que é possível nadar junto. Eu te ensino a nadar, juro! Mas
você tem que me prometer que vai tentar, que vai se esforçar, que vai
remar enquanto for preciso, enquanto tiver forças! Você tem que me
prometer que essa viagem não vai ser a toa, que vale a pena. Que por
você vale a pena. Que por nós vale a pena.
Remar.
Re-amar.
Amar.
Caio Fernando de Abreu
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