quarta-feira, 30 de março de 2011

Para quem é pai/mãe e para aqueles que o serão...


Texto de Affonso Romano de Sant'Anna

Há um período em que os pais vão ficando órfãos dos seus próprios filhos.

É que as crianças crescem independentes de nós, como árvores tagarelas e pássaros estabanados.

Crescem sem pedir licença à vida.

Crescem com uma estridência alegre,

e, às vezes, com alardeada arrogância.

Mas não crescem todos os dias de igual maneira.

Crescem de repente.

Um dia sentam-se perto de você no terraço

e dizem uma frase com tal maturidade

que você sente que não pode mais trocar as fraldas

daquela criatura.

Onde é que andou crescendo aquela danadinha

que você não percebeu? crinaças brincando na areiacrianças2duas crianças

Cadê a pazinha de brincar na areia,

as festinhas de aniversário com palhaços

e o primeiro uniforme do maternal?

A criança está crescendo num ritual

de obediência orgânica e desobediência civil...

E eles crescem meio amestrados,

observando e aprendendo com nossos acertos e erros.

Principalmente com os erros que esperamos que não repitam.

E você está agora ali, na porta da discoteca,

DISCOTECA IMAGEM

discoteca discoteca 2

esperando que ela não apenas cresça, mas apareça!

Ali estão muitos pais ao volante,

esperando que eles saiam esfuziantes

sobre patins e cabelos longos, soltos.

patinspatinador desenho patinador1patinador

e discos ensurdecedores.

Entre hambúrgueres e refrigerantes nas esquinas,

hambúrguer2hambuúrguer

lá estão nossos filhos com o uniforme de sua geração:

incômodas mochilas da moda nos ombros.

Ali estamos, com os cabelos esbranquiçados.

Esses são os filhos que conseguimos gerar e amar,

apesar dos golpes dos ventos, das colheitas,

das notícias e da ditadura das horas.

Há um período em que os pais vão ficando

um pouco órfãos dos próprios filhos.

Não mais os pegaremos nas portas das discotecas

e das festas. Passou o tempo do "ballet", do inglês,

da natação e do judô.

Saíram do banco de trás

e passaram para o volante de suas próprias vidas.

Os pais ficaram exilados dos filhos.

Tinham a solidão que sempre desejaram,

mas, de repente, morriam de saudades

daquelas "pestes".

bebê dormindo

Deveríamos ter ido mais à cama deles ao anoitecer

para ouvir sua alma respirando conversas

e confidências entre os lençóis da infância,

e os adolescentes cobertores daquele quarto

cheio de adesivos, pôsteres, agendas coloridas

e discos ensurdecedores.

No princípio subiam a serra ou iam à casa de praia

entre embrulhos, bolachas, engarrafamentos, natais,

páscoas, piscina e amiguinhos.

Sim, havia as brigas dentro do carro,

cadeirinha criança criança, cadeirinha

a disputa pela janela, os pedidos de chicletes

e cantorias sem fim.

Depois chegou o tempo em que viajar com os pais

começou a ser um esforço, um sofrimento,

pois era impossível deixar a turma

e os primeiros namorados.

Não os levamos suficientemente ao Playcenter,

ao Shopping,

não lhes demos suficientes hambúrgueres e cocas,

não lhes compramos todos os sorvetes e roupas

que gostaríamos de ter comprado.

Eles cresceram sem que esgotássemos neles

todo o nosso afeto.

Chega o momento em que só nos resta ficar de longe

torcendo e rezando muito

(nessa hora, se a gente tinha desaprendido,

reaprende a rezar)

para que eles acertem nas escolhas em busca

de felicidade.

E que a conquistem do modo mais completo possível.

O jeito é esperar: anjinho1.os passos

qualquer hora podem nos dar netos.

O neto é a hora do carinho ocioso e estocado,

não exercido nos próprios filhos

e que não pode morrer conosco.

Campo dourado com 2 crianças

Por isso os avós são tão desmesurados

e distribuem tão incontrolável carinho.

Os netos são a última oportunidade de re-editar

o nosso afeto.

de mãos dadas

Por isso é necessário fazer alguma coisa a mais,

antes que eles cresçam.

Aprendemos a ser filhos

depois que somos pais...

“Só aprendemos a ser pais

depois que somos avós...”

bebê recém-nascido


BJ

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