Se Lembrássemos
"Cada
dia deixamos uma parte de nós mesmos no caminho. Tudo se desvanece ao
redor de nós, figuras, parentes, concidadãos, passam as gerações em
silêncio, desaparece tudo e se vai, o mundo nos foge, as ilusões se
dissipam, assistimos à destruição de todas as coisas, e isso não é
bastante, nós nos perdemos a nós mesmos; somos tão estranhos ao eu que
veio vivendo, como se não fosse o nosso próprio eu; o que eu era há
alguns anos, os meus prazeres, os meus sentimentos, os meus pensamentos,
não o sei mais, o meu corpo passou, a minha alma passou também, tudo o
tempo arrebatou. Assisto à minha metamorfose, não sei mais o que era, os
meus gozos de criança não sei mais compreendê-los, as minhas
observações, as minhas experiências, as minhas criações de jovem estão
perdidas; o que eu sentira, o que eu pensara (a minha única bagagem
preciosa), a consciência da minha antiga existência, não mais a tenho, é
um passado desfeito. Este pensamento é de uma sem igual melancolia. Faz
lembrar as palavras do príncipe de Ligne: 'Se nos lembrássemos de tudo o
que observamos ou aprendemos em nossa vida, seríamos bem sábios'".
Nenhum comentário:
Postar um comentário