
Cena de Te amarei para sempre (2009)
Todo amor costuma deixar frutos. Pode ser um carro que compraram juntos
para sempre chegarem ao mesmo destino, pela mesma estrada, um
apartamento no qual viveram aquela parte da vida em que "foram felizes
para sempre", aquele edredom que esquentou os corpos quando o frio
chegava e a paixão não era mais tão quente o suficiente, aquele gato ou
cachorro de estimação que alegrava tardes vazias de domingo, e tem
também aquele fruto tradicional deixado pelo amor: filhos, um filho ou
vários. Para todos, todo amor costuma deixar frutos. Para mim, todo amor
costuma me deixar. É, continuo exagerado, mas sincero. Nosso amor
deixou frutos, um filho, uma criança confusa e mal resolvida com dupla
personalidade, que costuma atender por dois nomes: distância e saudade.
Você só reconhece uma parte, um lado desse nosso filho - a distância -
registrou em cartório e a mostra com orgulho aos amigos em qualquer
encontro. A outra parte você nega paternidade, talvez nem com exame de
DNA você reconheça, mas não dá para negar, é a sua cara, é a nossa cara,
e eu sei que é ela que te faz acordar no meio da noite, doendo o peito
como uma criança que grita de fome ou de dor. É essa saudade, fruto
nosso, que te faz se interessar por eles, mas sempre achá-los
incompletos, que te faz achar que está seguindo, mas que deixou alguém
para trás, que há algo faltando, que está tudo bem, nunca tudo ótimo. E
eu tenho criado sozinho esse nosso filho, sou pai solteiro, daquelas
histórias clássicas de quem se apaixonou, se entregou, ganhou algo para
criar para sempre e depois foi esquecido. Mas é até bom, pelo menos você
não me deixou sozinho, tenho aqui comigo esse filho, que às vezes se
chama de saudade, às vezes se chama de distância. O bom que filho é para
sempre, né? E quando esse filho começar a perguntar de você eu só não
sei se vou dizer que te amei muito ou que ainda amo, que você partiu e
nunca mais volta ou que você vai voltar. O tempo não volta, mas a
saudade volta sem sequer ter partido, me deixando partido. No entanto,
vou contar histórias felizes, não preciso ser triste só porque não te
tenho mais aqui. Ninguém fala das histórias de amor que não deram certo
ou que não duraram, essas histórias, mesmo que por vezes ainda mais
bonitas, nunca chegam aos contos de fadas. Então eu quero que nosso
filho aprenda que nem sempre vai dar certo, mas que o importante não é
durar, é amar, ainda que termine, ainda que se ame só, ainda que doa, se
você amou é isso que vai te confortar quando o mundo parecer pequeno
demais para abrigar todas suas dúvidas. Desculpe qualquer devaneio,
desculpe qualquer delírio, mas se ainda der tempo eu só queria saber o
que fazer quando a falta se torna o que há de excesso em nós? Eu só
quero não enlouquecer e dizer ao mundo que ficou algo de nós no mundo:
se a minha ausência da vida dele fosse uma criança, ela já teria dentes,
já estaria no jardim de infância e as primeiras palavras que ela diria
seriam: "Volta. Amo. Tenho. Saudade". Talvez não assim, talvez não para
você ouvir. Todo amor deixa, todo amor é a deixa para se ser feliz, na
presença, na ausência, na eternidade ou na saudade.
dedico ee mensagen a todos que ten pais ausentes , que nenhuma criança deveria passar por isso
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