sexta-feira, 2 de março de 2012

A Moça e a Flor*









para ler até o fim. do fim.
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**A Moça e a Flor**

... e era uma vez uma Flor , uma flor grande,grande. ela morava num belo vaso colorido... e assim como ela muitas outras, também grandes e belas, viviam ao seu lado. elas respiravam paz uma ao lado da outra... mas a flor grande sempre quis mais. queria conhecer outros lugares...


era uma vez uma moça.ela andava angustiada e perdida. tonta com a vida... certo dia olhou pra sua varanda e a achou vazia. pensou em enfeitá-la com uma flor. quem sabe assim sua vida não ficaria mais colorida? resolveu tentar mais uma vez (visto que muitas flores já haviam desistido de viver em sua varanda).


a Flor grande , regada cuidadosamente pela dona do jardim que as vendia, acordava para mais um calmo mas morno dia ao lado de todas aquelas outras belas flores. foi quando a moça chegou e a escolheu sem pestanejar . levou- a pra casa como se colocasse aquele vaso embaixo do braço e dissesse: "é minha!!!" como numa invasão.


aquele vaso colorido, arrancado do jardim calmo mas morno, em alguns minutos já estava na varanda da casa da moça.


a flor resistiu àquele lugar. afinal, quem era essa? que arrancava flor do jardim sem pedir licença? a varanda era um lugar novo e alto e por ser assustador, também era bom.


a desconfiança da flor foi virando amor. afinal, a moça confusa que agora se fazia mais leve, a tratava com cuidado, com festa, com gentilezas, sorrisos, intimidade e fraternidade.


a moça e a flor eram cúmplices do mundo. riam e choravam na mesma proporção. e em geral, era de emoção.


era amor, a moça sempre dizia. a flor sabia. e já aceitava...


juntas eram belas, fortes, luz.


a flor seguia sua vida naquela varanda... com o tempo, outras chegaram para viver ao seu lado. algumas já eram suas flores - amigas daquele velho jardim, outras eram novidade pra ela.


moça e flor , com cuidado e alegria, apresentavam uma à outra as novas flores e amigas que chegavam. misturavam-se e aumentavam o jardim da varanda.


a moça, diante de compreensão e troca de afeto, seguia sua vida de forma mais clara ... e ainda que confusa fosse, a vida valia a pena. já conseguia dormir...


Flor e Moça eram felizes apenas por existirem uma pra outra.


o amigo tempo passou e certo dia Flor acordou sozinha. viu que a casa estava vazia e pensou: "moça deve estar de viagem. logo volta."


o amigo tempo passou. e passou mais. sua terra seca, suas folhas secas, seu coração seco...


as outras flores, ao contrário, que poderiam ficar sem água da moça, continuavam fortes. e Flor, a grande, logo a maior daquele jardim, estava pequena.


o tempo passou. e passou mais... foi quando Flor viu, pelo vidro da varanda que a moça estava em casa. passeava de um lado e de outro, arrumando o quarto, a cozinha, se arrumando pra festas...


Flor logo percebeu, apesar de não querer, que a moça não a via por opção. e a água não chegava por descuido, não por viagem.


(nenhuma viagem da moça fora tão doída pra Flor.)


Flor não era de deixar ar pesado ( seus versos eram de sorrir...) mas como evitar se assim já estava?


Forte e intuitiva, como toda natureza é, Flor logo lembrou do sentimento de desconfiança daquela varanda cheia de novidades...


será que deveria ter desabrochado ali?


tempo passou. e passou mais. Flor foi levada pra outros lugares, conheceu outras amigas-flores, e muitos amores-águas que a cuidavam com água pura.

rodeada quase sempre, por admiração e carinho,a quase-sempre-independente- flor, renovou a terra, recuperou seu caule...

mas sentia sempre o vestígio de uma folha seca: aquela parte morta por descuido.


certo dia moça procurou Flor. como se não enxergasse o que havia acontecido, jogou um pouco de água mas logo parou: a terra da flor não mais absorvia sua água. não aquela.


apesar da dor (que agora já se despede) desde então Flor preservou sua terra de água da moça.


nunca mais conseguiu acreditar, de verdade,naquele regador atrasado e cego.


até agradecia seu tempo de estadia na varanda,considerando o tanto que aprendeu...


mas folha seca não se esquece.

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