Clara foi a última cria da família Cuvero, tinha mais dois irmãos Natanael, Davi e uma irmã Anne, que ao tempo de seu nascimento já estava casada. Clara já andava aos nove meses, aos cinco lia livros relativamente grandes para alguém de sua idade. Aos seis, na véspera de natal seu pai morreu num acidente de carro. Sua mãe tentou de várias maneiras explicar-lhe que o pai morrera e nunca mais voltaria, no entanto, até os sete anos, Clara quase sempre corria à porta quando ouvia o barulho de alguém chegando, talvez fosse o papai oras!
Aos treze teve o primeiro beijo, aos quinze descobriu os desprazeres da carne quando de improviso, cedeu as insistências de seu namoradinho. Não é à toa que só descobriu os prazeres aos vinte. Mas antes disso, no dia de seu aniversário de dezoito soube da morte de seu irmão mais velho Natanael. Este foi brutalmente arrancado da vida quando um aneurisma ardiloso explodiu impiedosamente. Clara não teve forças para ir ao enterro. Sua mãe, que desde a morte do marido colecionava namorados (A pobrezinha só descobriu que a busca por alguém que substituísse o marido morto era em vão pouco antes de morrer), passou alguns meses quieta, parecendo um zumbi.
Aos vinte cinco ficou grávida de Luma, casou, teve mais dois filhos Rute e Natanael, em homenagem a mãe e ao irmão. Foi justamente no dia do primeiro ano do terceiro filho que entre lágrimas, Davi explicou o motivo da ausência da mãe a festa: Ela havia recebido o diagnóstico de câncer em estado avançado, o médico dera seis meses de vida. Como desgraça às vezes vem bem acompanhada, neste período que se soube que Anne morrera afogada nas águas calmas da Ìlha do Marajó, não deixou filhos. Para o azar de Rute, esta sobreviveu por rmais de dois anos, entre quimios, internações, dores lancinantes, morfina, esperança, terror, angústia, e finalmente um dia, segurando a mão de Clara, ela morreu em grande agonia aos sessenta anos. No funeral, Clara ao ouvir de uma senhora"amiga de última hora" que tinha sido uma benção a morte da infeliz Rute em face do sofrimento e da idade já avançada, Clara desferiu em agradecimento a espirituosa senhora um sôco tão forte que a mesma caíu no chão desacordada.
Aos quarenta, quase morre ao saber que as duas filhas adolescentes, Luma e Rute, haviam morrido num acidente com o ônibus escolar. Depois disso, Clara quase que era despedida da universidade onde lencionava e conseguiu licença do cargo de juíza por meses. Tinha perdido a vontade de viver. Não demorou para o casamento acabar. Tal fato só foi mais uma gota no ocêano de lágrimas que tinha se transformado a vida de Clara. Provavelmente por isso mesmo que não ficou muito chocada quando irmão Davi revelou que era homossexual. Este veio morrer aos sessenta anos, vítima de infarto, obviamente não deixou filhos.
Aos setenta e cinco anos, aposentada,vivia numa luta ranhida com seu filho Natanael, o mesmo insistia que ela fosse morar numa "confortável casa de respouso" nome bonito para asilo, não tinha como uma senhora idosa viver só, ela delicadamente mandava o filho à merda. As suas duas netas, já adolescentes, quase não a visitavam. Clara só foi morar na tal casa de repouso aos oitenta e cinco anos, quando não conseguia mais se locomover sozinha e enxergava muito pouco. Aos noventa, para alívio geral ela morreu de causas desconhecidas, sozinha, como chegou, silenciosamente, em sua cama.
O tempo seguiu implacável e levou seu filho Natanael numa tarde ensolarada, um escorregão, cabeça no meio fio, que deixou duas filhas e uma neta, esta última ganhou o nome de Sofia. Esta estava numa tarde chuvosa com seus dois filhos Gabriel e Kate, a pequena de sete anos indagou a mãe pelo nome da bisavó, Sofia constrangida, confessou que não sabia, inquieta, a menina insistiu, perguntou onde ela estava.
- Ah filha! Sua bisavó faleceu há muito tempo.
-Mãe, por que ela morreu? Todo mundo morre? Perguntou a pequena em lágrimas.
Sem saber como responder Sofia disse:
-Não, nós nunca vamos morrer. Sofia foi logo enxugando às lágrimas da filha, abraçando-a carinhosamente. Kate começou a sorrir. No entanto, Gabriel o mais velho, gritou...
-Ah! Que ridículo Mãe, no final das contas, todos um dia vamos embora....
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