segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Filha : O dia em que eu não for mais a mesma, tenha paciência e me compreendas. Quando derramar comida sobre minha blusa e esquecer como amarrar meu tênis, tenha paciência comigo e lembra-te das horas em que passei te ensinando a fazer as mesmas coisas. Se quando conversares comigo e eu repetir as mesmas histórias que sabes de sobra como terminam, não me interrompas e me escute. Quando eras pequenas, para que dormisses, tive que te contar milhares de vezes a mesma história até que fechasse os olhinhos. Quando estivermos reunidos e sem querer fizer minhas necessidades, não fiques com vergonha. Compreendas que não tenho culpa disso, pois já não as posso controlar. Penses, quantas vezes, pacientemente, troquei tuas roupas para que estivesses sempre limpinha e cheirosa. Não me reproves se eu não quiser tomar banho, sejas paciente comigo. Lembra-te dos momentos que te persegui e os mil pretexto que inventava pra te convencer a tomar banho. Quando me vires inútil e ignorante na frente de novas tecnologias, te suplico que me dê todo o tempo que seja necessário, e que não me machuques com um sorriso sarcástico. Lembra-te que fui eu quem te ensinou tantas coisas: comer, se vestir e como enfrentar a vida tão bem como hoje o fazes. Se em algum momento, quando conversarmos, eu me esquecer do que estávamos falando, tenhas paciência e me ajude a lembrar. Talvez a única coisa importante pra mim naquele momento seja o fato de ver você perto de mim, me dando atenção, e não o que falávamos. Se alguma vez eu não quiser comer, saibas insistir com carinho. Assim como fiz contigo. Também compreendas que com o tempo não terei dentes fortes, e nem agilidade para engolir. E quando minhas pernas falharem por estar tão cansadas, e eu já não conseguir mais me equilibrar, com ternura, dá-me tua mão para me apoiar, como eu o fiz quando tu começastes a caminhar com tuas perninhas tão frágeis. E se algum dia me ouvires dizer que não quero mais viver, não te aborreças comigo. Algum dia entenderás que isto não tem a ver com teu carinho ou com o quanto te amo. É difícil ver a vida abandonando aos poucos e meu corpo, e que é duro admitir que já não tenho mais o vigor para correr ao teu lado, ou para tomá-la em meus braços, como antes. Sempre quis o melhor para ti e sempre me esforcei para que teu mundo fosse mais confortável, mais belo, mais florido. E até quando me for, construirei para ti outra rota em outro tempo, mas estarei sempre contigo e zelando por ti. Não te sintas triste ou impotente por me ver assim. Não me olhes com cara de dó. Dá-me apenas o teu coração, compreenda-me e me apoie como o fiz quando começastes a viver. Isso me dá forças e muita coragem. Da mesma maneira que te acompanhei no início da tua jornada, te peço que me acompanhes para terminar a minha. Trata-me com amor e paciência, e eu te devolverei sorrisos e gratidão, com o imenso amor que sempre tive por ti. (À memória e lembrança de todas as mães e de todos os pais)


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