terça-feira, 16 de abril de 2013

- Falha humana - "Morreu o nosso amor. Ali na esquina. Morreu por falta de água. Que pena! Era tão nosso amor, mas morreu. Morreu por falta de espaço. Não era pra morrer, apenas demos um susto, tipo aqueles que a gente faz, fingindo que não se importa. Ele se importou e morreu. Eu ainda me lembro como era bonito, o nosso amor. Bonito é pouco. Ele era mesmo lindo. Delicado. Encantador. Morreu o nosso amor. Pra falar a verdade ele não morreu assim de repente. Ele foi morrendo aos poucos. Acho que tudo começou naquela tarde de outono, onde comi as frutas e me esqueci de deixar uma pra você. Nosso amor começou a morrer. Chateado, aquele dia na pracinha, você foi embora e não quis pegar na minha mão. Logo mais a noite, conversamos sobre isso. Cada um tinha uma razão. Eu esqueci que você gostava de frutas. Você esqueceu-se de aquecer minhas mãos. O nosso amor morreu. Dormimos sem prestar atenção no amor. Achei você chato. Foi a primeira vez que isso aconteceu. Você me achou egoísta. Também foi a primeira vez que isso ocorreu. E o nosso amor começou a morrer. Viajamos. Esquecemos o amor. Fomos trabalhar e deixamos o amor guardado. Nas horas vagas, nos ocupamos da rotina. Das prestações pra pagar. Do trabalho pra fazer. Passamos a andar mais apressados e o amor como era lento, ficou pra trás. Arrumamos mais trabalhos. Trocamos o carro. Trocamos o bairro. Trocamos a rua. Trocamos a casa. Compramos outras vestes. Paramos de sorrir. Esquecemos a pracinha. Largamos de cantar. Esquecemos a montanha. Os pés aquecidos. Os vasos floridos. As mãos juntas. Deixamos de olhar nos olhos. Deitar na mesma cama. Assistir os mesmos filmes. Comer as refeições juntos. Não somos “nós”. Agora somos tu, eu e o amor na caixa do lado. Guardamos o amor na caixa. No vento. No jardim amarelado. O amor está bem guardado no velho bilhetinho. No violão dentro do armário. Nas canções românticas que dançamos juntos. Na escuta noturna. Na conversa leve. Na troca de olhar. No gargalhada solta. Na reza. No colo. No ombro. No consolo da lágrima. No pedido de desculpas. Nos planos de andanças coloridas. O amor ficou pra trás. Mora em outro lugar. Perdeu a vaga, o status, a importância. Não floresceu. O amor morreu."

Foto: - Falha humana -

"Morreu o nosso amor. Ali na esquina. Morreu por falta de água.
Que pena! Era tão nosso amor, mas morreu. Morreu por falta de espaço.
Não era pra morrer, apenas demos um susto, tipo aqueles que a gente faz, fingindo que não se importa. Ele se importou e morreu.
Eu ainda me lembro como era bonito, o nosso amor. Bonito é pouco. Ele era mesmo lindo. Delicado. Encantador. Morreu o nosso amor.
Pra falar a verdade ele não morreu assim de repente. Ele foi morrendo aos poucos. Acho que tudo começou naquela tarde de outono, onde comi as frutas e me esqueci de deixar uma pra você. Nosso amor começou a morrer.
Chateado, aquele dia na pracinha, você foi embora e não quis pegar na minha mão. Logo mais a noite, conversamos sobre isso. Cada um tinha uma razão. Eu esqueci que você gostava de frutas. Você esqueceu-se de aquecer minhas mãos.
O nosso amor morreu. Dormimos sem prestar atenção no amor.
Achei você chato. Foi a primeira vez que isso aconteceu. Você me achou egoísta. Também foi a primeira vez que isso ocorreu. E o nosso amor começou a morrer. Viajamos. Esquecemos o amor. Fomos trabalhar e deixamos o amor guardado.
Nas horas vagas, nos ocupamos da rotina. Das prestações pra pagar. Do trabalho pra fazer. Passamos a andar mais apressados e o amor como era lento, ficou pra trás. Arrumamos mais trabalhos. Trocamos o carro. Trocamos o bairro. Trocamos a rua. Trocamos a casa. Compramos outras vestes.
Paramos de sorrir. Esquecemos a pracinha. Largamos de cantar. Esquecemos a montanha. Os pés aquecidos. Os vasos floridos. As mãos juntas.
Deixamos de olhar nos olhos. Deitar na mesma cama. Assistir os mesmos filmes. Comer as refeições juntos. Não somos “nós”. Agora somos tu, eu e o amor na caixa do lado. Guardamos o amor na caixa. No vento. No jardim amarelado.
O amor está bem guardado no velho bilhetinho. No violão dentro do armário. Nas canções românticas que dançamos juntos. Na escuta noturna. Na conversa leve. Na troca de olhar. No gargalhada solta. Na reza. No colo. No ombro. No consolo da lágrima. No pedido de desculpas. Nos planos de andanças coloridas.
O amor ficou pra trás. Mora em outro lugar. Perdeu a vaga, o status, a importância. Não floresceu. O amor morreu."

Ita Portugal

Nenhum comentário:

Postar um comentário