– Oi , filho.
– Oi, mamãe.
A mãe percebeu que o filho estava pensativo. E não hesitou em perguntar:
– O que você tanto pensa, filho?
–
Ah, mãe! Sabe o que é? Hoje, um menino da quarta série chamou o meu
amigo de preto, disse que ele tem um cabelo ruim e que ele deveria
voltar pra África. Ele disse ainda que os pais dele disseram que gente
assim é tudo gente do mal.
A mãe fez um instante de silêncio e esperou o menino continuar.
–
Aí o meu amigo chorou e eu não entendi o porquê daquilo. Meu amigo é
igual a todos os outros meninos. O que ele tem demais? Porque aquele
menino chato fez ele chorar, mãe?
–
Filho, nem todas as pessoas nesse mundo pensam que nem você ou eu.
Muita gente tem um coração duro e só sabe julgar. Provavelmente os pais
desse menino não tiveram uma boa educação. E é claro que o filho deles
também vai ser assim. Os filhos muitas vezes são espelhos dos seus pais.
O menino respirou fundo ainda indignado e triste.
–
Mas, mãe... pra mim, o Ricardo não é negro, nem tem cabelo ruim, nem
nada disso que o menino falou que ele é. Pra mim, o Ricardo é o meu
amigo. É o melhor amigo que eu tenho. A pessoa que me faz sorrir.
–
Que lindo, filho. Que bom mesmo seria se todo mundo pensasse que nem
você. Mas o mundo está cheio de gente feia. Feio é quem tem preconceito.
Feio é quem julga uma pessoa por ela ser negra, gordinha, gay, enfim,
ser diferente dos demais.
–
Todo mundo é igual, mãe. Todo mundo é gente. As pessoas deveriam ser
mais bonitas. Agora estou triste porque o Ricardo está triste.
O menino chorou e abaixou a cabeça, escorando-a no colo de sua mãe. E entre os soluções continuou dizendo:
– Não quero que o Ricardo chore mais, mãe. Vê-lo triste me faz ficar triste.
O menino colocou a mão no lado esquerdo do peito. E prosseguiu:
– Estou sentindo uma coisa tão ruim aqui dentro, mamãe. Só sinto vontade de chorar, chorar...
–
Quando a gente ama muito alguém, não queremos ver essa pessoa sofrer. E
vê-la sofrer também nos machuca, João. O mundo e as pessoas são cruéis.
Mas ele não tem o poder de fazer uma coisa...
– O que, mamãe?
–
Eles não podem roubar o amor e o respeito que você tem pelas pessoas.
Isso você vai levar pra vida toda, filho. É uma dádiva que Deus te deu.
Na verdade, ele dá para todo mundo. Mas há muitas pessoas que se deixam
vencer pelo preconceito, pela ruindade que existe dentro de si. É claro
que cada pessoa esconde um bocado de bondade dentro de si. Mas que pena
que elas ainda não encontraram...
A
crueldade do mundo fez com que aquele simples menino notasse o que pra
ele nunca fez diferença. As pessoas, às vezes, constroem imensas
barreiras entre si. Uma imensa divisão. De um lado, ficam os
homossexuais. Do outro lado, ficam os heterossexuais. De um lado, ficam
os negros. Do outro lado, ficam os brancos. De um lado, ficam os mais
ricos. E, do outro lado, ficam os mais pobres. A superficialidade e a
ignorância humana criou uma linha divisória entre as pessoas. Não
importa mais quem você é. O que importa é o que você tem ou aquilo que
você escolheu ser. Não importa se você tem um coração bom. Ou se você é
honesto e trabalhador. Os olhos de pessoas arrogantes só enxergam o que
desejam enxergar. Ninguém se atreve a bater na porta, pedir licença e
entrar pra conhecer. Parece que se tornou mais cômodo julgar sem
conhecer. Dizer sem saber. Ele pode ser homossexual, mas pode ser mais
macho que muito homem por aí, que não sabe assumir as consequências de
suas escolhas. Ele pode ser pobre, mas acorda todos os dias às 4 horas
da manhã, pega um ônibus lotado, mesmo com sono, mesmo cansado, chega no
trabalho com um sorriso no rosto e dá o melhor de si. Enquanto tem
tanta gente por aí, andando bem vestida, com estampas famosas, achando
que estão pisando em nuvens. Mas, no fundo, elas sabem que são pessoas
vazias. São mortas-vivas. E que ainda querem tentar matar a esperança de
quem vive. Por favor, se você está trancado e amordaçado por seus
conceitos tão burros, tão egoístas, tão mesquinhos. Comece a olhar um
pouquinho para o lado de fora. Veja quem passa. Ele ou ela é que nem
você. É gente como a gente. É ser humano. E merece respeito.
Respeite!
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