terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Pais que matam seus filhos

Procuram-se pais que amem seus filhos, que os tornem prioridade em suas vidas
Eu pedi pra papai do céu pra me levar no seu lugar. Mas ele te escolheu porque você será um anjo mais belo e puro. Esse mundo terrível não é digno de você.
Confesso, dói ler essa declaração. Machuca. É de um pai. Um pai culpado. Culpado pela morte de uma menina de apenas dez meses.
É provável que você tenha lido a notícia. O comerciante Clóvis, 29 anos, morador de Volta Redonda, esqueceu a filha dentro do carro. A menina ficou no veículo quatro horas. Não resistiu ao calor. Morreu. Foi quinta-feira passada, 8/11.
O pai deixou a pequena Manuella dormindo no banco traseiro. Foi almoçar com amigos e, em seguida, passou num cartório. Só percebeu que a havia esquecido quatro horas depois.
Na sua página no Facebook, publicou a mensagem que reproduzi parcialmente. Não vou discuti-la. Analisá-la. Confesso que, como pesquisador do texto e do discurso, sinto vontade de desconstruir o que ele escreveu. Porém, falar desse pai não vai mudar nada. Não vai trazer a menina de volta. A garotinha, inocente, morreu. E, sim, o mundo era digno dela. Talvez seu pai é quem não fosse. Mas… prometi não falar dele.
Entretanto, algo me incomoda. O que esse pai fez não é fato inédito. Não foi o primeiro nem será o último. Já vimos notícias envolvendo mães também. O que mostra que não são os homens, apenas eles, o gênero desprovido de sensibilidade.
Esquecer uma criança no carro é ignorar a presença de um filho, a sua existência. Muitos não estão esquecidos no banco de trás. Estão abandonados dentro de casa. Não são notados.
Os pais, engolidos pela rotina, pela correria do dia a dia, não percebem que seus filhos existem. Que carecem de atenção. Crianças e adolescentes não morrem dentro do carro, mas estão mortos para a família. Não são consumidos pelo calor; estão congelados pela falta de calor humano. São vistos apenas quando os problemas se avolumam e os filhos se tornam problema. Ou “aborrecentes”, como alguns preferem classificar os monstrinhos que eles próprios criaram.
Filhos esquecidos são sintoma de um tempo de desamor. E de prioridades invertidas. Nossas ocupações ganharam o topo da lista. Por isso, queremos crianças pacíficas, boazinhas. Eles não podem incomodar, chorar. Queremos colocá-los no mundo quase por capricho. São lindinhos, gostosinhos… Dá vontade de morder, né? São brinquedos de adultos. Porém, quando somos confrontados com a realidade e com o esgotamento que eles trazem, achamos que os nossos filhos são um problema. E eles passam a ser responsabilizados por nos darem trabalho.
Sabe, nem todos estão preparados para serem pais. Na verdade, penso que hoje alguns poucos são altruístas o suficiente para dividirem, compartilharem, se doarem. Para serem pais. Somos egoístas, competitivos, gananciosos. Não há muito espaço para viver por alguém. Talvez por isso filhos morram trancados dentro de carros. Ou… dentro de nossas casas, debaixo de nossos olhos.

Um comentário:

  1. Nossa, é mesmo chocante o que acontece hoje. Pais que podemos chamar de desnaturados que preferem trabalho, dinheiro, farra, ao invés de cuidar do presente divino que lhes foi dado, ninguém disse que seria fácil, então por que querem que os filhos sejam perfeitos e que não deem um pingo de trabalho? Rogéria parabéns pelo seu artigo!! XD

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