quarta-feira, 13 de abril de 2011

História de uma Mãe







Havia uma sofredora mulher que velava aflita, à cabeceira do filhinho doente,
quando a Morte chegou para buscá-lo.

Sem que ela pudesse ensaiar qualquer defesa, a Morte arrebatou o menino
da cabana. Desesperada, a mãezinha saiu a gritar para rever o pequenino,
mas a Morte veloz desaparecera.
Chorando, avançou a infeliz, estrada a fora, quando, em plena noite,
encontrou uma mulher que poderia encaminhá-la; esta, todavia, em troca da
informação, pediu-lhe para cantar todas as canções com que a pobre
embalava o filho.

Embora em lágrimas, ela repetiu todas as cantigas com que afagava o
pequenino, ao pé do berço. A mulher ensinou-lhe, então, que a Morte se
dirigira para certo espinheiro.

A pobre mãe alcançou-o, mas o espinheiro, para ajudá-la, exigiu que ela o
abraçasse. Sem vacilar, a desditosa mãezinha enlaçou-o, aquecendo-lhe os
espinhos que a noite enregelara...

Quando o seu corpo já se mostrava coberto de chagas, o espinheiro
explicou que a Morte seguira no rumo de grande lago.

A peregrina, ensangüentada, chegou ao lago, mas o lago fazia coleção de
pérolas e, para prestar-lhe o serviço, pediu-lhe os belos olhos.
A infortunada viajante arrancou os próprios olhos e lhos deu. O lago,
desse modo, transportou, ferida e cega, para o outro lado da terra, onde a
Morte costumava guardar as criancinhas.

Era um grande cemitério, guardado por monstruosa mulher que, para
ensinar-lhe o lugar exato onde a Morte aportaria naquela noite, lhe reclamou
a linda cabeleira.

Sem qualquer hesitação, ela deixou-se tosar e, logo após, quase
irreconhecível, foi colocada em posição de perceber a chegada do pequeno
que procurava.
Esperou... esperou...

Em dado instante, ouviu que a Morte regressava com os meninos que
recolhera. Atenta, escutava as vozes diversas, qual se registrasse a presença
de um bando de passarinhos, quando, dentre todas, distinguiu o choro de
seu próprio filho e, apesar de cega, avançou para ele, gritando, jubilosa:
- Meu filhinho!...
- Meu filhinho!...

E agarrou-o nos braços, a beijá-lo, enternecidamente.

A própria Morte, emocionada, perguntou-lhe então:
- Como fizeste para chegar aqui, antes de mim?

Ela, chorando e rindo, pôde apenas dizer:
- SOU MÃE.

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